Guia Básico de Fundos de Investimento
Os Fundos de Investimento são uma alternativa interessante para aqueles que não desejam administrar os próprios ativos de risco da carteira de investimentos. Mas, antes de começarmos, vamos relembrar o conceito de renda variável?
O que é renda variável?
Renda variável (ou ativos de renda variável, ou ativos de risco) é a classe de ativos financeiros com rendimento incerto (quanto à existência) e imprevisível (em relação à quantidade) no momento da sua aquisição. Por isso, são classificadas como de alto risco.
Em outros termos, são ativos alocados para aplicação financeira cujo risco é tão alto que seu retorno não é garantido. Você pode, inclusive, perder todo o dinheiro investido!
Exemplificam-se como tipos de ativos de renda variável, cada um com suas próprias características de risco, de liquidez dentre outras: as ações, os fundos de investimento, os certificados de operações estruturadas (COEs), os derivativos (opções, contratos futuros …) etc.
Comparando: na renda fixa, há um nível de certeza sobre a rentabilidade do ativo; já na renda variável, não é possível ter essa certeza. Aquele que compra uma ação, por exemplo, sabe que estará sujeito à valorização ou desvalorização do papel ao longo do tempo. Mas é impossível saber de antemão o quanto será essa variação. Não dá para saber, inclusive, se a empresa irá falir um dia e, consequentemente, sua ação perder todo seu valor.
Próximo passo: fundos de investimento. Vamos lá?
O que é um fundo de investimento (FI)?
É uma comunhão de recursos, constituído sob a forma jurídica de condomínio, destinado à aplicação em ativos financeiros. Em termos simplificados, FI é um veículo coletivo de investimentos que emite cotas.
Ele funciona como um condomínio residencial, onde cada um dos condôminos é dono (investidor-cotista) de um apartamento (cota) e remunera o seu síndico (gestor do fundo) para administrar o prédio (fundo). Quer dizer, vários investidores reúnem seus recursos para aplicar na bolsa de valores de forma conjunta.
Embora sejam classificados como ativos de renda variável, isto é, possuem retorno incerto e imprevisível no momento da aquisição, os FIs atendem aos vários tipos de investidores: desde os conservadores aos mais arrojados.
Agora vamos ter uma noção dos fundos de investimento mais comuns do Brasil.
Quais são os principais tipos?
Existem vários tipos de FIs, uma verdadeira sopa de letrinhas.
Vale citar os mais comuns: 1) fundos de renda fixa (FIRFs), 2) fundos de ações (FIAs), 3) fundos imobiliários (FIIs), 4) fundos multimercado (FIMs), 5) fundos cambiais (FI Cambial), 6) fundos de previdência (FI Prev) e 7) fundos replicadores de índices (ETFs).
Brevemente anunciaremos, em nosso blog, uma resenha mais aprofundada sobre cada um dos fundos de investimento! Fique ligado!
1) Fundos de renda fixa (FIRF): são aqueles que aplicam, no mínimo, 80% do fundo em títulos representativos de dívida, seja ela pública (para o Estado) ou privada (para empresas).
Conforme já vimos em nosso artigo “Renda fixa: aprenda a investir”, os ativos de renda fixa pagam o capital inicial mais juros (pré ou pós-fixados), inflação ou ambos.
Aliás, por terem os FIRFs menos volatilidade (ou seja, pouca variação do preço) que outras classes de ativos, eles costumam ser mais compatíveis com o público conservador.
Por outro lado, também existem alguns FIRFs que possuem volatilidade um pouco mais elevada em razão da política de investimento do fundo. Apesar disso, eles são importantes para qualquer perfil de investidor em razão da diversificação.
Além disso, nesse tipo de fundo de investimento, o risco geral da carteira é o de crédito, ou seja, refere-se à incerteza sobre o pagamento (liquidação) do título pelo devedor no vencimento. Dizemos “geral” porque quando o FIRF for composto de ativos de risco, o fundo também se submete aos riscos destes.
Por fim, eles podem ser de vários tipos e utilizam-se de variadas estratégias: de curto prazo, de longo prazo, referenciados, simples, de dívida externa, de crédito privado, de juros, de inflação etc.
2) Fundos de ações (FIA): são aqueles com objetivo de aplicar em ações e equivalentes.
O patrimônio desse fundo deve conter, no mínimo, 67% de ações ou em ativos relacionados, como por exemplo: bônus de subscrição, certificados de depósitos de ações, cotas de fundos de ações, cotas em fundos de índice de ações, Brazilian Depositary Receipts (BDRs) entre outros.
Seu principal risco específico é o de mercado, isto é, o da variação de preços dos ativos investidos na bolsa de valores. No geral, os FIAs têm um nível de volatilidade alto. Neles, um gestor diferenciado é de suma importância para obter bons retornos.
Os fundos de ações possuem estratégias próprias, tais como: long only, long biased, indexados, aplicados no exterior etc.
3) Fundos imobiliários (FIIs): são os fundos destinados a aplicações em empreendimentos imobiliários e são de dois tipos: de tijolo e de papel.
Os FIIs de tijolo adquirem, no todo ou em parte, a propriedade de bens imóveis prediais, tais como flats, hotéis, shoppings e galpões. Seu principal risco particular é o inerente à natureza dos bens imóveis tangíveis (exemplo: perda total por desabamento).
Já os de papel aplicam em títulos do setor imobiliário (CRIs, LCIs e LHs). Seus principais riscos específicos são o de crédito (não pagar) e o do emissor (devedor falir).
Como subdivisões dos FIIs, ainda é possível indicar os de lajes corporativas, shoppings, logística, hotéis, renda urbana, agronegócio etc.
Vale mencionar o IFIX, que é o índice dos fundos imobiliários do mercado brasileiro e que replica alguns dos maiores FIIs negociados na B3.
4) Fundos multimercado (FIMs): são fundos que investem em todas as classes de ativos, seja de renda fixa ou variável, e em qualquer proporção.
Em outras palavras, não necessitam seguir regras específicas de composição do portfólio da carteira. Exemplo: investimento em renda fixa, ações, em outros fundos de investimentos, derivativos, cambial, commodities, metais preciosos, obras de arte etc.
Seus riscos inerentes principais estão diretamente ligados à natureza dos itens que compõem a carteira.
Sua principal desvantagem é o famigerado “come cotas”, tratamento tributário diferenciado do imposto de renda que incide duas vezes por ano (maio e novembro) e que acaba por reduzir a lucratividade do fundo.
As estratégias específicas mais comuns dos FIMs são macro, long & short, investimento no exterior e quantitativo.
5) Fundos de previdência (FI Prev): são fundos que buscam garantir uma renda passiva após um determinado período de contribuição.
Também são conhecidos como fundo de previdência complementar, pois servirá de complemento (daí o nome) à previdência pública do INSS.
O patrimônio desse fundo é constituído basicamente de aplicações periódicas pelos cotistas (fase de acúmulo) de um valor até, conforme o plano de gestão, poder receber a respectiva renda passiva (fase de recebimento).
Algumas vantagens: tributação facilitada, portabilidade, resgate flexível, (tudo de uma vez ou parceladamente) e sucessão patrimonial facilitada em algumas hipóteses (os valores investidos nesses fundos não entram no inventário).
Leia nosso artigo sobre previdência privada para saber mais (VGBL, PGBL, tributação etc).
6) Fundos cambiais (FI Cambial): são aqueles que aplicam, no mínimo, 80% em moeda estrangeira ou em ativos mensurados em moeda estrangeira. Os outros 20% são de livre alocação.
Seu objetivo primário é o de preservar o poder de compra de parte do patrimônio pessoal em uma moeda estrangeira mais forte. Ou seja, visa proteção (hedge) dos cotistas contra eventual desvalorização do Real.
Seu risco específico principal é o monetário, isto é, o da alta do Real. Isso implicaria a baixa da moeda padrão do fundo (exemplo: dólar). Por consequência, a cota do FI Cambial também se desvalorizará, tudo o mais constante.
7) Fundos (replicadores) de índice (ou exchanged traded fund – ETFs): são aqueles que buscam replicar o desempenho de um índice de referência.
Exemplo: o Ibovespa é um indicador de desempenho de uma determinada cesta de ações negociadas na B3. O ETF BOVA11 tem como meta de performance (benchmark) esse desempenho do índice Bovespa.
Outro ETF muito conhecido é o SMAL11, cuja referência é o índice de small caps da B3.
Agora vamos ver algumas das estratégias usadas pelos fundos de investimento.
Estratégias gerais dos FIs
No processo de tomada de decisão, o gestor de um fundo de investimento pode decidir por variadas estratégias, sempre observando a política de alocações do fundo.
Entre elas, as principais estratégias são: 1) abertos ou fechados; 2) de gestão ativa ou passiva; 3) com ou sem carência; 4) de posicionamento; 5) de alavancagem, 6) de hedge.
Vejamos cada uma delas.
1) Estratégia “abertos x fechados”.
Abertos são aqueles fundos de investimento que possibilitam o resgate de cotas a qualquer tempo, bem como não existe impedimento para ingresso de novos cotistas.
Fechados são aqueles com capital fixo, duração pré-definida e com um objetivo específico. Por isso, são proibidas a entrada e a saída de novos investidores e aportes, bem como o resgate de cotas antes do prazo de duração do fundo.
2) Estratégia de “gestão ativa ou passiva”.
Na gestão ativa, observada a política do fundo, o gestor é livre para montar a carteira e tentar obter um retorno superior a um índice de referência (benchmark) pré-determinado. Caso consiga, o gestor terá direito à chamada taxa de performance, se previsto no estatuto.
Já nos FIs de gestão passiva, o gestor apenas busca igualar algum benchmark pré-estabelecido na política de gestão do fundo, reduzindo a diferença de performance dele e a do índice de referência.
Em suma, a gestão ativa ou passiva está ligada a intensão do fundo em superar um benchmark (gestão ativa) ou meramente persegui-lo (gestão passiva).
Exemplo mais comum de gestão ativa no mercado brasileiro são os fundos multimercado, enquanto nos de gestão passiva são os ETFs.
3) Estratégia “com ou sem carência”.
Com carência são aqueles fundos que exigem um período mínimo para pedir o resgate do dinheiro.
Sem carência, não há essa exigência.
4) Estratégia de “posicionamento”.
São os fundos buy and hold. O gestor analisa um dado ativo, percebe que está barato, compra e não tem prazo para vendê-lo.
Em resumo, o administrador visa o desempenho do desenvolvimento econômico de determinado ativo ao longo do tempo.
5) Estratégia de “alavancagem”.
São aqueles que usam derivativos para potencializar o lucro do fundo. Mas tal estratégia também pode maximizar as perdas.
6) Estratégia de “hedge”.
São os fundos que utilizam derivativos para diminuir o risco de perdas. É como se fosse um seguro para a carteira do fundo de investimento.
Resumo do que vimos até agora
Nome dos fundos
O nome dos FIs descreve a definição e a natureza do fundo e pode ser completo ou abreviado. No geral, é formado pela gestora, nome, tipo e estratégia. Vamos a alguns exemplos.
Um exemplo de nome abreviado: NCH Maracanã Long Biased FIA.
NCH é o nome da gestora do fundo. Maracanã é o nome do fundo. FIA é o tipo do fundo de investimento (no caso, ações). Long Biased é sua principal estratégia.
Agora um exemplo de nome completo: Alaska Poland Fundo de Investimento em Ações – BDR Nível I Investimento no Exterior.
Alaska é o nome da gestora. Poland é o nome do fundo. Fundo de investimento em Ações (FIA) é o tipo de fundo de investimento. BDR (Brazilian Depositary Receipts) é o subtipo do fundo. Nível I significa que suas cotas são limitadas a 50 investidores institucionais. E Investimento no Exterior é a principal estratégia do fundo (aplicar em ativos sujeitos à variação de moeda estrangeria, que é o caso das BDRs).
Informações essenciais
A lâmina dos FIs descreve, resumidamente, suas informações essenciais.
São elas: público-alvo do fundo, objetivos, política de investimentos, condições de investimentos, composição da carteira, risco, rentabilidade histórica etc.
Sujeitos
Cotista é o investidor do fundo.
Gestor é a pessoa que toma as decisões sobre os atos de gestão operacional do fundo, tais como: o que comprar, o que vender, onde alocar, quais riscos tomar etc, sempre respeitando os limites da política de investimento.
Administrador é aquele que cuida dos demais atos de gestão do fundo, como por exemplo: obrigações legais (exemplo: pagamento de tributos), administrativas (exemplo: cobrar taxas dos cotistas), relacionamento com clientes etc.
Auditor é a pessoa que faz a análise das demonstrações contábeis do fundo e também do compliance, que é a verificação se a atividade do fundo está em conformidade com as normas.
Custodiante é o responsável pelo registro, liquidação e exercício dos direitos e obrigações dos ativos que compõem a carteira do fundo.
Distribuidor é aquele responsável por captar os recursos dos investidores. É como se fosse um vendedor de uma carteira de fundos. Ele apresenta e recomenda FIs aos potenciais clientes em função do perfil de investimento de cada um.
Sites úteis
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Por fim, se quiser saber mais sobre a fonte normativa dos FIs, clique aqui para conhecer.
Curiosidades
Segundo a Anbima, em dezembro de 2020, havia R$ 6 trilhões em investimentos distribuídos em mais de 21 mil fundos, quase 700 gestores e 24 milhões de cotistas.
O primeiro fundo de investimento do Brasil foi o Valéria Primeira, criado em 1952 e administrado pelo banco Deltec.
É isso. Até a próxima!
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